Governança, Geração de Valor e os Conselheiros que Importam

Sumário

As empresas de diversos portes no Brasil ainda são muito incipientes no uso de conselhos consultivos – são em torno de 1% dos conselheiros ativos do mundo que estão aqui[i]. Aspectos ligados a nossa cultura empreendedora podem justificar esta atividade tão pequena em conselhos no País. Nossa cultura ainda está alicerçada na solidão do empresário, que é muitas vezes um super-homem, mas que na verdade deve focar em ter um supernegócio.

Precisamos difundir a cultura do supernegócio no Brasil. Lutar por negócios mais prósperos, estáveis e perenes torna obrigatória nossa participação, conselheiros e advisors, nesta discussão. Temos que promover uma revolução por aqui, afinal é muito elevada a mortalidade das nossas pequenas e médias empresas (cerca de 60% das empresas não sobrevivem após cinco anos de atividade[ii]), com ênfase entre as startups[iii] (cerca de 70% morrem entre o segundo e o quinto ano). E isso se dá, na maioria quase total dos casos, por motivos previsíveis e contornáveis.

E por que a governança? Super empresários criam supernegócios com método: princípios, regras, estruturas e processos. Conselheiros e advisors dão suporte ao sistema da governança, mantendo no foco a geração sustentável de valor para a empresa, para o empresário e para a sociedade.

Ora, a governança não diz respeito somente à introdução de um conselho na empresa. Segundo conceito do IBGC[iv], há algumas características notadamente importantes da governança que a torna fundamental para melhorar a saúde em geral do nosso ecossistema empreendedor:

“Governança corporativa é um sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral. Esse sistema baliza a atuação dos agentes de governança e demais indivíduos de uma organização na busca pelo equilíbrio entre os interesses de todas as partes, contribuindo positivamente para a sociedade e para o meio ambiente.”

Entendemos assim como princípios básicos da governança corporativa a:

  • Integridade: promover a cultura ética na organização, evitando conflitos de interesse e mantendo a aderência da prática ao discurso;
  • Transparência: disponibilizar as informações claras e relevantes para as partes interessadas, sendo a verdade um ativo de reputação;
  • Equidade: tratar todos os sócios e partes interessadas de maneira justa pelo princípio da equidade, considerando seus direitos e necessidades;
  • Responsabilização (Accountability): ter responsabilidade por atos e omissões, gerando vínculos com seus resultados positivos e negativos e prestando contas com uma comunicação direta, objetiva e clara;
  • Sustentabilidade: zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização junto a todas as partes interessadas e considerar os diversos efeitos de suas ações, para que os benefícios da existência da empresa reforcem sua perenidade;

Claro que tais conceitos são bastante abstratos, ainda mais quando pensamos em todas as dificuldades que um negócio enfrenta em sua realidade todos os dias.

Todavia, é importante deixar claro que há ganhos bastante imediatos e concretos (inclusive financeiramente) com a aplicação de princípios de governança na empresa. Por exemplo, em termos de funcionamento “para dentro” da empresa, ou seja, na operação e direção, temos:

  • Melhoria no processo de tomada de decisões: a organização e sistematização mais eficiente das informações, juntamente com uma análise contínua da estratégia realizada no âmbito da governança, permitem que os modelos de atuação da empresa sejam validados sob diferentes perspectivas (não apenas uma única visão). Essa avaliação do desenvolvimento do negócio torna-se, portanto, mais valiosa para a empresa, que será capaz de tomar decisões mais adequadas e ágeis para crescer e se desenvolver;
  • Melhoria na Gestão de Riscos: as estruturas de governança eficientes permitem à empresa identificar, avaliar e gerenciar riscos de maneira mais eficaz, evitando crises e prejuízos significativos;
  • Melhores Práticas de Gestão: a governança corporativa promove a adoção de melhores práticas de gestão, incluindo a definição clara de responsabilidades e a implantação de processos de controle e auditoria;
  • Redução de Conflitos de Interesse: a governança corporativa trabalha com o alinhamento dos interesses de todos os envolvidos, documentando e registrando as hipóteses de conflitos de interesse entre acionistas, gestores e outros stakeholders, bem como apontando para soluções combinadas entre todos caso estes sejam levantados;
  • Melhora no Desempenho: as empresas com boas práticas de governança tendem a apresentar melhor desempenho financeiro e operacional, refletindo melhoras significativas de competitividade e melhor resposta evolutiva ou adaptativa às mudanças do mercado e às exigências dos stakeholders.

Por outro lado, melhores condições internas de alocação de recursos e de estratégia são recompensadas por uma melhor percepção externa da empresa – com ganhos de imagem, reputação e credibilidade junto ao mercado. Por isso, as empresas de capital aberto são obrigadas a apresentar uma estrutura mínima de governança corporativa. Os ganhos externos, ou “para fora” da empresa, podem ser resumidos como:

  • Melhor Condição de Acesso a Capital: empresas com boas práticas de governança tendem a ter acesso a financiamentos e investimentos em condições bastante melhores, pois transmitem maior confiança e transparência. Isso atrai mais e melhores investidores;
  • Maior Valorização da Marca: Comunicação assertiva e baseada na verdade, conforme prevê os princípios da governança corporativa, ajuda a construir uma reputação positiva no mercado, o que pode resultar em maior valorização da marca e fidelização de clientes.
  • Mais Transparência Gera Mais Confiabilidade: da mesma forma, quando aumenta a transparência das operações e das informações divulgadas, a confiabilidade na empresa se eleva e o mercado entende melhor os riscos associados à empresa e como ela se distingue do mercado.
  • Visão do Mercado – Sustentabilidade e Responsabilidade Social: a relação da empresa com todas as partes interessadas, de forma equânime, e a promoção da responsabilidade social contribuem para a sustentabilidade da empresa a longo prazo, impactando positivamente a comunidade e o meio ambiente.

Em suma, podemos entender que a governança corporativa melhora os processos internos de forma que isso passa a ser percebido por quem está fora da empresa (mercado). Pessoas de dentro ou de fora que estejam felizes com uma empresa fortalecem a percepção da sua marca, o que leva a ganhos financeiros, também.

Conselheiros que Geram Valor para os Negócios

Uma vez compreendido como a governança corporativa gera valor para as empresas, transformando os empreendimentos dos nossos empresários super-homens em supernegócios, podemos entender agora qual o perfil do advisor ou do conselheiro que irá potencializar os ganhos da governança a um patamar bastante maior.

Os melhores conselheiros para uma empresa – independente do seu porte ou maturidade institucional – detêm qualidades universais. Podemos resumi-las como:

  1. Expertise e Conhecimento: o advisor deve ter um profundo conhecimento e experiência em negócios[v], sendo um dever estar atualizado com as tendências do mercado e as melhores práticas;
  2. Comunicação Eficaz: devem ser capazes de transmitir informações complexas de maneira assertiva, com clareza e linguagem acessível. Além disso, devem ser bons ouvintes;
  3. Tomada de Decisão Hábil: por ajudarem as empresas a tomar decisões informadas, considerando todos os prós e contras e oferecendo perspectivas valiosas, eles devem ser capazes de entender caminhos mais hábeis para auxiliar a direção das empresas a tomarem decisões;
  4. Integridade e Ética: o advisor deve ser confiável por agir com integridade e manter altos padrões éticos, colocando os interesses da empresa aconselhada em primeiro lugar;
  5. Empatia: deve sempre haver compreensão e respeito aos sentimentos e perspectivas de todos os stakeholders, habilitando-os a construir relações de confiança e respeito mútuo;
  6. Confiança: por meio da transparência e da integridade, devem gerar e inspirar confiança nos founders, empresários, corpo diretivo e seus pares.

Ora, as qualidades acima elencadas são fundamentais e suficientes para trazer à empresa um conselheiro muito valioso. Mas podemos, por outro, entender que há advisors que vão além. Então, o que mais um conselheiro que agrega mais valor pode trazer para um conselho, uma empresa? Resumidamente, pode trazer mais:

  • Capacidade Analítica: são generalistas antes de serem especialistas, e, portanto, têm a capacidade de analisar dados e informações de maneira crítica, consistente, relacional (entre as áreas de negócio) e estratégica para orientar decisões, ao que se agrega a característica a seguir;
  • Visão Ampla – Nexialismo: segundo a definição de Farias Souza, BOARD é a “capacidade de lidar e unir possibilidades de forma integrada, e não segmentada, sempre ajustando a potência das decisões para a melhor tomada de decisão tendo em vista diferentes cenários, independente do setor[vi]”;
  • Habilidade de Resolução de Problemas: ter a capacidade de oferecer um menu de soluções eficazes rapidamente, com implicações secundárias e compreensão dos cenários diversos, ao identificar ou antecipar problemas;
  • Adaptabilidade: são flexíveis e capazes de se adaptar a diferentes situações e desafios, podendo orientar a direção da empresa na navegação por por mudanças e incertezas;
  • Proatividade: buscam ativamente antecipar problemas e identificar oportunidades antes que se tornem evidentes ou emergenciais;
  • Inovação: buscam novas ideias e abordagens em todas as dimensões dos negócios para melhorar os resultados para as empresas;
  • Redes: o advisor valioso tem uma rede extensa de contatos e conhece caminhos que podem ser úteis para as empresas aconselhadas, seja para networking, consultorias, parcerias ou diversas outras oportunidades.

Assim, de forma resumida, o conselheiro que agrega mais valor à empresa é aquele que traz mais do que a visão do negócio em si. Ele tem o dom de enxergar além e de forma mais holística do que os outros, em especial, a direção executiva da empresa, cujo foco deve estar em outras áreas mais imediatamente críticas do negócio.

E é basicamente por estas razões que um advisor, um conselho e seus conselheiros vão ser agentes de desenvolvimento sustentável de uma empresa – independentemente do seu porte. Eles ajudam a criar supernegócios ao colocar luz e sugerir soluções sobre o que está na sombra da visão dos executivos ou fundadores – sejam problemas ou oportunidades. Estes executivos e fundadores, por seu turno, já sabemos todos: estão ocupados e preocupados demais sendo super-heróis e empreendendo no Brasil!


[i] Segundo o Advisory Board Centre (2023 – 2025 State of the Market).

[ii] 60% das empresas não sobrevivem após cinco anos no Brasil, aponta IBGE | Exame (acesso em 25/02/2025).

[iii] Inovar para sobreviver: 7 em cada 10 startups morrem antes dos cinco anos de atividade | Startupi (acesso em 25/02/2025).

[iv] IBGC – Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (6ª edição), página 17.

[v] Equivale a dizer que o advisor ou conselheiro deve entender muito DE negócios, sendo desejável, também, conhecimento DO negócio da empresa.

[vi] Além da especialização: o papel do nexialismo no combate à limitação empresarial | LinkedIn (acesso em 26/02/2025).

Venha discutir estas ideias na publicação original: https://www.linkedin.com/posts/eduardomerlin_conselheiro-advisor-conselho-activity-7300527617080778752-UG-J

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