De fato, a relação é complexa e, aparentemente antagônica. Todavia, há formas bastante interessantes de interação para geração de inovação, conforme pudemos discutir com o excelente Eduardo Gomes, MBA, CCA IBGC no módulo de Governança no Ecossistema de inovação, turma 24 do Lean Governance da Board Academy Br.
Neste contexto, os incumbentes são empresas estabelecidas, com presença consolidada no mercado, que possuem recursos significativos, infraestruturas complexas e uma base de clientes que os conhecem bem. A seu favor: são financeiramente estruturadas, com acesso a um capital mais vasto e barato, permitindo investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento. Mas há o outro lado: ao mesmo tempo, são mais rígidas, resistentes a mudanças e burocratas, perdendo agilidade perante as necessidades de mudanças rápidas.
Os insurgentes, por seu turno, são novos entrantes no mercado, que se permitem a abordagens inovadoras e disruptivas, desafiando “status quo” ao perseguirem novas ideias e tecnologias. O que trazem de bom? Especialmente uma nova mentalidade em um terreno (digo, empresa) fértil, apropriado para crescer e desenvolver. Essa mudança cultural implica ser empreendedor, mesmo sem contar com um mercado real pré-existente, mas trazendo a agilidade de poder errar rápido e corrigir rápido. E neste caso, rapidez é economia de custos. E isso é necessário! Elas operam em um ambiente de pouco capital, pequena experiência e altos incerteza e risco.
Aparentemente, são duas forças opostas. Porém, na vida real, não precisam ser assim. No livro Lunáticos – Como Cultivar Ideias Inovadoras Capazes de Mudar o Mundo, Safi Bahcall mostra que há espaço de criação de ambientes de inovação aberta para os insurgentes no ecossistema de inovação criados a partir de necessidades das empresas tradicionais/incumbentes, e apoiados por elas. Eventualmente, esse método implicará criação de tecnologias (de materiais, de software, de design, de processo etc.) que levará a um contrato de fornecimento ou uma aquisição da startup pela grande empresa.
É possível, também, segundo Bahcall, criar ambientes isolados favoráveis à inovação dentro das empresas – contudo, muito protegidos das áreas “tradicionais” corporativas – como espaços seguros de experimentação, tentativa, erro e reinvenção, no qual podem surgir atitudes insurgentes em atores incumbentes do ecossistema. Esse isolamento é delicado, pois as áreas estáveis de negócios tenderão a sufocar os gênios disruptivos.
O autor recomenda uma série de ações que aumentam a probabilidade disso dar certo, o que torna a sua leitura uma questão obrigatória para quem está buscando ser mentor, conselheiro ou investidor de startups (e até mesmo de empresas tradicionais). A mim, o livro me ensinou a pensar soluções em problemas que antes eu acreditava insolúveis nessa relação no ecossistema de inovação.
Discuta essas ideias na publicação original do texto: https://www.linkedin.com/posts/eduardomerlin_boardacademy-empresas-conselho-activity-7304940591568592896-3Z3m